A influência das reformas no varejo de material de construção

Em tempo de recessão é comum ouvir nas rodas de empresários ou mesmo de amigos: “A crise está aí, mas alguém deve estar ganhando com ela.” E está. O varejo de material de construção, por exemplo.
Pode parecer controverso, mas é justamente a crise hídrica e a insegurança de comprar um imóvel novo em uma conjuntura recessiva o motor da expansão nas vendas de torneiras, chuveiros, bacias sanitárias e produtos destinados, principalmente, para a economia de água e energia.

A alternativa é dar um jeitinho na casa ou apartamento: trocar o revestimento do piso ou da parede, as luminárias, as lâmpadas ou simplesmente renovar a pintura, principalmente em um momento em que a economia de água e energia se tornou prioridade nas residências.

Em vez de vender duas das três casas localizadas em um mesmo terreno na Lapa, zona Oeste de São Paulo, a dona-de-casa Sonia Maria Mantovani Cezar decidiu reformar os imóveis para locação.

“Concluí a obra de uma e agora estou acabando a obra da segunda casa. Chegamos a pensar em vendê-las. Mas como o mercado está incerto, a reforma foi uma saída”, disse Sônia, na  quinta-feira, 16, enquanto finalizava uma compra de cerca de R$ 1 mil em tintas e outros materiais na Telha Norte da marginal Tietê.

O valor de uma das casas, segundo ela, é da ordem de R$ 1 milhão. “Recebi uma oferta de R$ 700 mil. Optamos pelo aluguel”, afirmou a dona-de-casa, que gastou cerca de R$ 60 mil na reforma da casa.

É esse comportamento do consumidor brasileiro que tem assegurado as vendas do setor de material de construção neste ano, segundo representantes do varejo, do atacado e da indústria.

Em pleno ano recessivo, o faturamento real das lojas de material de construção subiu 4,6% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2014.

Só no mês de março, o crescimento do setor atingiu 6%, de acordo com levantamento da Anamaco, associação que representa aproximadamente 148 mil lojistas de material de construção no país. O levantamento foi realizado junto a 530 comerciantes das cinco regiões do país, entre os dias 27 e 31 de março.

As vendas de louças sanitárias subiram 6%; revestimentos cerâmicos, portas e janelas de alumínio, 3%; tintas, 2% e metais sanitários, 1%, sobre igual mês de 2014.

São  números de despertar a inveja. A maioria dos segmentos do varejo registrou queda de vendas desde o inicio deste ano, segundo o IBGE. No primeiro bimestre de 2015, as vendas do comércio brasileiro caíram 1,2% em relação a igual período de 2014.

Alguns setores registraram queda de até dois dígitos, como o de veículos e motos, de 19,8%. Até as vendas de alimentos e bebidas em supermercados caíram 0,8%, no período, de acordo com o IBGE.

No caso de material de construção, a pesquisa do IBGE também mostra queda de vendas – de 7,8% no primeiro bimestre deste ano em relação a igual período do ano passado. Neste caso, há explicações.

Essa queda, segundo o IBGE e especialistas no mercado de construção, reflete a diminuição no número de lançamentos de novos prédios neste ano –de 10%, em média, segundo o Secovi–, a paralisação do setor de infraestrutura por conta da operação Lava Jato e o fato de fevereiro do ano passado ter tido menos dias úteis.

A Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) informa que, se não fossem as reformas das residências das famílias, o setor  estaria sofrendo muito mais.

No primeiro trimestre deste ano, segundo a associação, as vendas da indústria caíram 8,8% em relação a igual período do ano passado. Metade do que o setor produz de destina às construtoras e às obras de infraestrutura. A outra metade que vai para as lojas e, como consequência, para o consumidor, está indo bem, registrou crescimento de 1,5%.

Tanto o varejo como a indústria de material de construção esperam um crescimento positivo sobre 2014. A Anamaco prevê para 2015 um aumento de 6% no faturamento real do setor. É um número e tanto, quando se considera que o crescimento da economia, na melhor das hipóteses, deve ficar próximo de zero.

Tão importante quanto isso é que a comparação se dá com um ano (2014) em que o faturamento do varejo de material de construção foi recorde, de R$ 125 bilhões, segundo levantamento do Ibope Inteligência.

Fonte: ANAMACO, disponível em: http://novo.anamaco.com.br/noticia-interna.aspx?uid=4123

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